segunda-feira, 30 de julho de 2012

Que amor nojento. Um amor egoísta, mentiroso, doloroso e sufocante. Quantos anos nós precisaremos perder até que você perceba que isso não é amor? Deixe-me ir e talvez até acredite que nesse “amor” também exista espaço para mim.
Que amor é esse que cega e não o deixa perceber que eu murcho cada vez que você se aproxima? Amor tão mesquinho que nem ao menos se importa com a felicidade do objeto amado.
Sinto-me velha, algemada a um passado que nem parece ser meu.
Sinto-me tão sozinha, mas esta é a única coisa que ainda me conforta.

sábado, 14 de julho de 2012

"Comfortably numb"

Enquanto tragávamos aquele riso não conseguia sentir dor nenhuma e tudo parecia estar tão quente que quando molhei minha cabeça na pia da cozinha desceu um arrepio que tremeu meu corpo inteiro. A cachaça queimava minha garganta e assim como meus dedos com marcas de brasa ela também não sentia nada. Dor e morfina caminhando juntas e saindo em forma de vapor pelos meus poros. O tempo parecia parar. Tudo estava lento e o chão se abria em agulhas enquanto me deitava e rolava por cima de suas pontas geladas.
Era tão confortável, dividi meus delírios e minha embriaguez com meu analista em forma de fumaça que analisava e arrepiava minhas coxas. Minha pele pedia toque, minha boca pedia beijo, meu corpo pedia alma e minha alma pedia calma.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Mãe

Até você voltar para mim eu vou acordar todos os dias às 6 da manhã. Vou escutar suas músicas, forrar a cama, tomar banho de alfazema e pentear o cabelo. Vou reclamar do bom humor de papai pela manhã e tomar café com leite. Vou falar com aquela voz irritante com as gatas, andar arrastando a sandália pela casa e ter mania de limpeza. Vou visitar vovó, vou cozinhar e pode deixar que eu não vou esquecer de lavar a louça. Vou manter as portas fechadas para Sophie não fazer xixi em nenhum quarto e quando eu for sair vou trancar a porta da casa e sempre andarei com a chave. Vou conversar com as gatas, sentar na sua cadeira, assistir televisão e colocar o meu pé em cima da gorda (gata). Vou proteger minhas irmãs e amaciar papai. Encher a casa de incensos e falar, falar, falar muito. Vou falar do trabalho que tive o dia inteiro e que ninguém reconheceu. Vou falar dos ciúmes de papai e vou terminar o dia fazendo papa e assistindo novela. Vou tomar aquele banho que enche a casa com um cheiro que é a mistura dos seus incensos, perfume de alfazema, creminho na mão e a sua doçura natural.  Vou beber água milhares de vezes antes de dormir e distribuirei beijos de boa noite. Vou deitar no seu lado da cama sentindo seu cheirinho no travesseiro e virada para o espelho do armário, alisando meu próprio cabelo. Vou adormecer escutando música e quando acordar eu vou reclamar do ronco de papai.
PS.: Domingo é dia de missa, não estou esquecida!

Beijos do seu chaveirinho.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Caminhando em direção ao mar, curtindo o primeiro banho de luz do dia assisti as ondas quebrarem em pequenas gotículas que beijavam o meu rosto. A espuma abraçava meus pés e o céu abençoava o meu dia. Perdi meu olhar no horizonte onde as águas são feitas de diamantes. Abri meus braços e abracei o vento. Enquanto meus pés afundavam minhas lágrimas também salgadas pingavam no mar. Naquele momento eu era toda felicidade e esse sentimento era capaz de preencher meu coração a ponto de explodir. Não conseguia parar de rir quando a água tentava roubar minhas sandálias e o vento brincava com o meu cabelo. As ondas faziam desenhos ao meu redor e água era absorvida tão rápido que parecia evaporar. Tudo brilhava. Era 6 da manhã e eu não entendia como podia ter passado tanto tempo dormindo... Enfim fiz as pazes com o dia.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Sinceridade.

Toda a loucura do mundo fez sentido num abraço seu. Seus braços longos, tentáculos perdidos em meio à escuridão me ninando e me abraçando do mundo. Suas mãos brincavam e ensinavam a direção às minhas. Seu toque diluía minhas tensões e me curava aos pouquinhos. Seus dedos deslizavam curiosos se perdendo entre recusas.
Fechava meus olhos ao sentir a ponta do seu nariz deslizando no meu rosto e pescoço. Tudo me convidava. Era silencioso e acalentador. Conseguia enxergar toda a sinceridade e compreensão que vinha daqueles olhos verdes que apaziguavam meu coração. Não conseguia parar de olhar para eles e não entendia como podiam brilhar ainda mais no escuro.
A cada abraço minhas mãos desesperadas apertavam seus braços enquanto eu afundava meu rosto no seu peito chorando na sua pele quente.
Eu queria dormir em você.  Queria abraçar até que parasse de doer aquela dor que eu não entendia e que até então não a tinha percebido. Queria respirar ofegante brincando com seu rosto e aprendendo você nos detalhes que passariam facilmente despercebidos se eu não me importasse. Queria ser toda verdade para então tornar-me a sua.
Você não conseguia ver o quanto eu o desejava. Eu não tinha nada para dar. Estava tão pequena entre os seus braços, oca e quebradiça.

domingo, 1 de julho de 2012

Abortei.

Lembro de me embriagar com seu gosto de uísque e de enrijecer meu corpo quando você tentava me conduzir numa dança. Lembro do seu cheiro de conforto e de me deitar ao seu lado e começar a tagarelar para não o deixar dormir, de passar minhas mãos nos seus braços e de deitar minha cabeça no seu peito, de abraçar você e pedir para sentir seu peso sobre mim. Lembro de enlouquecer com seu corpo incrivelmente branco e sua pele macia, de puxar seus ombros em minha direção afiando minhas unhas em você, de enrolar meus dedos nos seus cabelos e de pedir para aquilo nunca ter fim.
Costumava andar nas suas costas, conversar enquanto estávamos no banheiro, beijar sentindo a água do chuveiro chover em nós, usar seu xampu, o observar enquanto fazia a barba, escutar música e comer sanduíche com requeijão. Costumava me enciumar com facilidade, de ter tanto medo de perder aquela ilusão, beber demais e terminar chorando abraçada nos seus braços imóveis e temendo seu olhar de repressão. Gelando no branco da sua pele.
Lembro de olhar para você enquanto fumava seu cigarro e bebia seu chá apoiado na janela tão perto e distante de mim, de olhar você andando no corredor e de retocar meu batom vermelho me enrolando no lençol tentando chamar sua atenção para trazê-lo de volta para o quarto. Lembro de sentir sua respiração no meu pescoço enquanto dormíamos e de me aconchegar em você e de adorar ser surpreendida durante o sono com um abraço seu.
Costumava ficar feliz em freqüentar jogos de futebol, torcia pelos abraços seguidos de pulinhos vindos em sequência depois dos gols e adorava quando chovia e você me abraçava para tremermos juntos.
Lembro de temer as unhas do seu cachorro nas minhas meias e de você limpar meu vestido dos fiapos soltos. Lembro do meu olhar terno quando o vi tão preocupado em salvar o passarinho na varanda. Lembro de sair com você para comprar tênis, balas, guarda-chuva e auxiliar na compra de roupas.
Costumávamos beber água no gargalo, manchávamos os moveis com marcas de copo e desforrávamos a cama.
 Lembro de tantas conversas, mas também me lembro do silêncio que crescia entre nós. Lembro do desconforto, da falta de empolgação, dos atrasos, da falta de faíscas no toque. Lembro de sentir saudade do jeito que você já não me olhava, de sentir saudade da paixão que deu lugar ao comodismo. Os encontros foram tornando-se mais escassos. Derrubamos o copo com nossos beijos e não nos beijamos mais.