sexta-feira, 27 de junho de 2014

Quando volto para casa depois de um dia de trabalho já é noite e os carros passam rápido, as poucas pessoas que estão na rua andam sem olhar demais. Não enxergo tão bem e meus sentidos são ofuscados pelas luzes artificiais. Sempre me sinto como a Branca de Neve correndo pela floresta onde tudo a assusta. O poder da luz.
Minhas noites poderiam se resumir a essa sensação de voltar para casa. O caminho até a parada de ônibus onde costumo ficar tensa misturada a sensação de sorte ao chegar na parada e encontrar o ônibus que iria esperar. Sempre entro com o mesmo olhar empolgado procurando ansiosa pela cadeira mais alta do lado da janela. Abro todas as janelas e coloco o rosto do lado de fora como um cachorro passeando de carro. Então sinto aquele vento geladinho, cantarolo alguma música, sonho quieta com um sorriso morno nos lábios.
Então ao descer do ônibus tudo está ainda mais escuro, mas estou tão perto de casa e começo a pensar em tirar meus sapatos. Chego em casa, comprimento o porteiro, pego o elevador, penso na hipótese do elevador parar, respiro tentando afastar o pensamento, penso que deveria fazer mais exercício, penso que deveria usar a escada e então chega no nono andar. Tento abrir a porta e a porta está fechada, bato na porta de cara feia, penso o motivo pelo qual nunca deixam a porta aberta naquele horário, entro na sala, respondo à minha mãe dizendo que está tudo bem, jogo a bolsa na cama, tiro o sapato, tiro a calça, tiro a camisa, tiro o sutiã, boto um camisetão e visto o short do pijama. Corro para a sala para ver a novela, me esparramo no sofá e depois tento criar coragem para tomar banho e pensar no que fazer.
Costumo passar uma hora ou mais me olhando no espelho antes de tomar banho, cantando e imaginando coisas impossíveis. Prestando atenção com um ar de preocupação nas minhas linhas de expressão perto da boca e pensando que talvez sejam meus hábitos ruins que estão me deixando velha antes do tempo. Penso coisas ruins e então afasto tudo e começo a cantar.  Sofro com o banho frio, mas ao sair me olho de novo no espelho e adoro ver minha pele lisinha e limpinha.

Olho a hora e penso que está tão perto de ter que dormir para amanhã acordar e fazer tudo de novo. Pena que as partes que mais gosto do meu dia passam tão depressa. Então faço listas que não vou cumprir para o dia seguinte e então durmo. 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Olhos nos olhos

Dias difíceis aqueles. Onde tudo o que desejava era o meu maior medo: Ver o tempo passar. Maio foi quase um parto e junho caminhava depressa, mas ainda assim alguns minutos insistiam em engasgar. E o momento mais triste do dia era sempre o fim quando sentia o peso nas costas de imaginar que amanhã teria que fazer tudo de novo. Todo o esforço e toda aquela sensação de ver o tempo passar e de estar me perdendo ali. Em tão pouco tempo sinto que tudo pareceu um sonho e que nada realmente existiu e ao acordar algo em mim estava diferente e algo meu já não existia mais. Algo meu já não era meu.
Era terça-feira e voltava pra casa olhando para o alto e prestando atenção no verde brilhante e amarelado tão morno daquelas árvores que pareciam indicar o caminho e ao mesmo tempo fazer uma moldura para o céu. Mostrando que tudo ficaria bem. Eu percebi naquele momento que eu nunca tinha escrito nada de bonito para você. Percebi que tudo o que escrevi foram promessas para te ter para sempre, foram pedidos de desculpa por ter uma personalidade difícil e no fim promessas de desamor. Mas nunca escrevi uma carta de amor de verdade. De admiração, de percepção, de carinho. E hoje não faria a menor diferença escrevê-la ou não porque você não se importa mais e quer apenas que eu supere, substitua por outro alguém para que não sinta mais nenhum remorso.
Chegou o momento que demonstrar o que sinto por você é me distanciar ainda mais. Meus olhos são o mundo e já não o vejo mais. Mas é você, é seu nome que me vem sempre à cabeça quando entro numa igreja que nunca entrei antes e lembro de fazer três pedidos ou quando por ventura vejo uma estrela cadente. Não me vem nenhum desejo específico e sim seu nome. A fitinha do Bonfim que nunca cai e também nunca te trouxe de volta.

Eu desisti porque não existe mais nada que eu possa fazer para tentar recuperar e como numa música de Chico Buarque vou obedecer e me refazer.

domingo, 15 de junho de 2014

Peguei meu amor e o guardei com cuidado numa gaveta junto com seu retrato e outras lembranças. Tranquei e evitei olhar, mas continua existindo e eu continuo sabendo exatamente onde encontrar.
Para não desistir para sempre precisei desistir agora e é tão difícil ficar nessa corda bamba. Mudando de humor da mesma forma que você muda de resposta sobre nós. Sinceramente cada vez me pergunto mais se é realmente amor ou teimosia. Mas você não. Você é cheio de certezas e subestima minhas habilidades. Você não tem medo de me perder porque ainda não me perdeu.

A cada dia meu sentimento se esvai e amanheço mais livre.

Depois de escutar tantos absurdos seus dormi 18 horas e acordei sem nenhum passado e quando parei para pensar em você só conseguia lembrar das contradições e da admiração que eu já não tinha por você e percebi uma coisa. Da mesma forma que um dia você acordou e se perguntou o que fazia comigo... Hoje eu acordei e percebi que não o amo mais.