Acho que é a ausência de terapia na minha vida, mas a ideia
de encontra-lo me consome em tremedeira e sinto uma raiva que não sei de onde
vem. Acho que realmente fiquei maluca de uma vez e que falo coisas sem sentido.
Frases sem destinatário certo, soltas ao vento. Um desespero que precisa
esvair-se em desabafo. Contar discursos que só eu preciso ouvir, acreditar e
aclamar. Me convencer de qualquer coisa que depois irei esquecer.
É, foi assim que o
perdi. O perdi em meu desequilíbrio, minha ansiedade imatura, minha tremedeira
desesperada e meu riso desenfreado que termina em lágrimas sujas de rímel pingando
em descompasso em seu travesseiro. O que há de errado comigo? Será que sou toda
erro e nunca acerto? Minha boca sempre querendo, minhas mãos sempre trazendo,
meus braços sempre abraçando, minhas pernas sempre prendendo.
E como num vício, minha pele queima em abstinência do seu
toque. E eu só quero esquecer ou me viciar ainda mais. Mas a cada dia minha
agonia se acalma em fé. Fé na verdade. O que for para ser, será e não preciso
gastar energia com isso. Minha pele e alma se anestesia e assisto o tempo
passar na chuva que escorre na janela do ônibus que eu nunca fecho, apenas para
receber os pingos como um acalento divino.
Só queria que ele entendesse o quão sincero foi meu amor.
Entender que quando eu não parava de falar o que não precisava ser dito era só
uma forma de fugir do silêncio, fugir da distância e do fim.
Enquanto o tempo encarrega-se de abafar a dor, eu tento. Tento
com toda a força que tenho me transformar em alguém melhor. Passar por cima dos
meus traumas, das minhas inseguranças, da minha pressa. Fugindo da minha
instabilidade e trazendo paz para as minhas atitudes. Paz e paciência. Então eu
acordo e faço tudo o que preciso fazer, sempre esperançosa. Firme, forte, doce
sem azedar.