terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mundo grande

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
Por isso me grito,
Por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
-Ó vida futura! nós te criaremos.

Carlos Drummond de Andrade

Queria conseguir me ver só sem a interferência de mais ninguém, mas são tantos passos pela casa, a água cai em um ritmo certo, a vassoura não para de pincelar o chão e as vozes agudas e estridentes não deixam a música tomar conta de mim. Se a música invadisse minha alma e preenchesse todos os vazios enfim a agonia sumiria do meu coração. Se eu conseguisse fechar os olhos e pudesse ouvir o que ela tem a me dizer... Em um único segundo minha vida estaria cheia de vida. Se todos os meus sentidos se unissem em um só... Talvez meus pensamentos fizessem sentido. Talvez encontrasse Deus dentro de mim. Talvez acreditasse nele. Talvez acreditasse em mim. São tantas agonias e confusões se todas elas cessassem descobriria a paz de espírito que para mim nunca passou de um sonho.

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

É tanta vida e tão pouco tempo. A inércia me frustra.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Morais

Canção para uma valsa lenta

Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amas, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...

Minha vida não foi um romance,
Minha vida passou por passar.
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.

Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches a vida
De surpresa, de encanto, de medo!

Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso... de um gesto... um olhar....

Mario Quintana

sábado, 20 de agosto de 2011



Talvez eu fale até todos cansarem de tentar me ouvir e ainda assim não diga nada. Talvez eu não devesse me preocupar tanto com o modo que devo agir, o que devo falar ou como devo ser vista. Por mais que eu me esforce não posso mudar o que os outros veem ou querem ver. Meus sentimentos se movem rápido, me causam náuseas e somem mais rápido ainda me deixando sem nenhuma verdade, mas rodeada de mentiras. Num paradoxo e numa confusão sem fim.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011




Geralmente a gente tem uma visão muito romântica da vida. O tempo passa entre nossos dedos e nada é como pensávamos que era. Nossas escolhas não são tão nossas e percebemos que não conseguimos controlar absolutamente nada. Crescer assusta e machuca, mas certas coisas são inevitáveis. Nada nos espera e tudo nos persegue!