domingo, 11 de março de 2012

Eu não quero falar em terceira pessoa. Não quero distanciar a verdade de mim. Não quero detalhar lugares, cores, cheiros, sentimentos e pessoas. Não quero me preocupar com a estética daquilo que escrevo. Hoje eu só preciso de um espaço para fugir um pouco da minha capa de fortaleza e indiferença. Porque eu estou tão cansada de vestir uma mentira, continuar um assunto e forçar um sorriso que machuca e marca minhas bochechas.
Passei a noite em claro, olhando a TV, mas sem absorver nada. Desenhando e amassando o papel. Com sono, mas com preguiça de dormir. Com os olhos pesando e sendo consumida pela minha inércia. Depois do banho melhorei um pouco, fui me deitar rindo à toa com o roçar do pêlo da minha gata pelas minhas pernas e olhando para a janela deixei minha mente vagar sem propósito.
Era uma manhã de domingo lilás e chuvosa. Tão confortável naquele momento. Silenciosa, só ouvia o barulho do ventilador e os pingos ritmados que choravam no vidro da minha janela. Alguma coisa que eu não conseguia identificar dentro de mim chorava junto, mas sem desespero algum. A calma reinava dentro de mim, ela conseguia controlar cada emoção que se guardava sem grandes esforços. Como um choro com preguiça de ser chorado. Terminei dormindo sem hora para acordar, sendo ninada pela chuva e pela preguiça que me acalmava, confortava e me parava. E eu só precisa disso... Um tempo para respirar.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Passei da euforia desenfreada para uma calma que assustava. Sentei no chão gelado do banheiro, senti a parede grudar nas minhas costas e passei horas olhando para a tesoura de cortar tecido, analisando meu reflexo em suas lâminas que cortavam juntas e nunca estavam sozinhas... Conseguia sentir meus traços pesando toneladas cortando meu rosto em lágrimas que dançavam juntas na mesma direção, pulando do meu queixo para cima do meu busto como retalhos de tecido que caem no chão sem dor alguma. Me levantei e olhei fixamente o espelho, tentei falar alguma coisa para aquela pessoa que eu tanto observava, mas não conhecia... Que me surpreendia a cada dia com uma linha nova, com mais algum sentimento a ser maquiado e algum medo a ser disfarçado. Então, antes de não conseguir mais conter meu riso que se misturava às minhas lágrimas impacientes abri a porta do banheiro e corri em direção ao quarto jogando tudo para o chão tentando encontrar alguma mentira para maquiar mais alguma coisa. Tentando encontrar algo que fizesse sentido em toda aquela bagunça. Canetas coloridas, batom carmim, pó de arroz, sombras cintilantes... Carreguei tudo que podia segurar e voltei para o banheiro, ainda trêmula e tentando secar o rosto para poder me pintar. Tatuei meus desejos e desculpas, pintei meu rosto e me borrei toda com tanto vermelho... Meus dedos colavam por causa do esmalte escarlate que latia todas as minhas inseguranças.
Peguei a tesoura de novo e comecei a passear sua ponta no meu corpo com um toque leve que enrijecia meus músculos e arrepiava minha pele. Passei minhas mãos no meu cabelo... Puxei, baguncei e senti dor, mas quando cortei não senti nada e como uma compulsão cortei de forma irregular cada pedaço de cabelo que restava. Comecei a gargalhar de puro nervosismo e alívio. Voltei a passear a tesoura pelo restante do meu corpo dessa vez com um pouco mais de segurança, arranhando e marcando os lugares que deveria cortar. Então cortei! Minha intenção era deixar de ver tudo aquilo que me incomodava diariamente, desviar a atenção para outras coisas, me esconder atrás daquilo que impediria as outras pessoas de enxergar o que eu realmente sentia e era. Quando terminei de cortar e voltei a me olhar... Estava linda! Saí de casa calmamente, andando na rua e sentindo todos aqueles olhares em minha direção. O suor escorrendo entre meus cortes ardendo cada brisa que me abraçava nesse novo começo. Virei meu rosto em direção a todo aquele sol que me acolhia e queimava por todos os lados.
Agora eu conseguia sentir e finalmente me descobri linda!