terça-feira, 17 de junho de 2014

Olhos nos olhos

Dias difíceis aqueles. Onde tudo o que desejava era o meu maior medo: Ver o tempo passar. Maio foi quase um parto e junho caminhava depressa, mas ainda assim alguns minutos insistiam em engasgar. E o momento mais triste do dia era sempre o fim quando sentia o peso nas costas de imaginar que amanhã teria que fazer tudo de novo. Todo o esforço e toda aquela sensação de ver o tempo passar e de estar me perdendo ali. Em tão pouco tempo sinto que tudo pareceu um sonho e que nada realmente existiu e ao acordar algo em mim estava diferente e algo meu já não existia mais. Algo meu já não era meu.
Era terça-feira e voltava pra casa olhando para o alto e prestando atenção no verde brilhante e amarelado tão morno daquelas árvores que pareciam indicar o caminho e ao mesmo tempo fazer uma moldura para o céu. Mostrando que tudo ficaria bem. Eu percebi naquele momento que eu nunca tinha escrito nada de bonito para você. Percebi que tudo o que escrevi foram promessas para te ter para sempre, foram pedidos de desculpa por ter uma personalidade difícil e no fim promessas de desamor. Mas nunca escrevi uma carta de amor de verdade. De admiração, de percepção, de carinho. E hoje não faria a menor diferença escrevê-la ou não porque você não se importa mais e quer apenas que eu supere, substitua por outro alguém para que não sinta mais nenhum remorso.
Chegou o momento que demonstrar o que sinto por você é me distanciar ainda mais. Meus olhos são o mundo e já não o vejo mais. Mas é você, é seu nome que me vem sempre à cabeça quando entro numa igreja que nunca entrei antes e lembro de fazer três pedidos ou quando por ventura vejo uma estrela cadente. Não me vem nenhum desejo específico e sim seu nome. A fitinha do Bonfim que nunca cai e também nunca te trouxe de volta.

Eu desisti porque não existe mais nada que eu possa fazer para tentar recuperar e como numa música de Chico Buarque vou obedecer e me refazer.

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