Dias difíceis aqueles. Onde tudo o que desejava era o meu
maior medo: Ver o tempo passar. Maio foi quase um parto e junho caminhava
depressa, mas ainda assim alguns minutos insistiam em engasgar. E o momento
mais triste do dia era sempre o fim quando sentia o peso nas costas de imaginar
que amanhã teria que fazer tudo de novo. Todo o esforço e toda aquela sensação
de ver o tempo passar e de estar me perdendo ali. Em tão pouco tempo sinto que
tudo pareceu um sonho e que nada realmente existiu e ao acordar algo em mim
estava diferente e algo meu já não existia mais. Algo meu já não era meu.
Era terça-feira e voltava pra casa olhando para o alto e
prestando atenção no verde brilhante e amarelado tão morno daquelas árvores que
pareciam indicar o caminho e ao mesmo tempo fazer uma moldura para o céu.
Mostrando que tudo ficaria bem. Eu percebi naquele momento que eu nunca tinha
escrito nada de bonito para você. Percebi que tudo o que escrevi foram
promessas para te ter para sempre, foram pedidos de desculpa por ter uma
personalidade difícil e no fim promessas de desamor. Mas nunca escrevi uma
carta de amor de verdade. De admiração, de percepção, de carinho. E hoje não
faria a menor diferença escrevê-la ou não porque você não se importa mais e
quer apenas que eu supere, substitua por outro alguém para que não sinta mais
nenhum remorso.
Chegou o momento que demonstrar o que sinto por você é me
distanciar ainda mais. Meus olhos são o mundo e já não o vejo mais. Mas é você,
é seu nome que me vem sempre à cabeça quando entro numa igreja que nunca entrei
antes e lembro de fazer três pedidos ou quando por ventura vejo uma estrela
cadente. Não me vem nenhum desejo específico e sim seu nome. A fitinha do
Bonfim que nunca cai e também nunca te trouxe de volta.
Eu desisti porque não existe mais nada que eu possa fazer
para tentar recuperar e como numa música de Chico Buarque vou obedecer e me
refazer.
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