domingo, 1 de julho de 2012

Abortei.

Lembro de me embriagar com seu gosto de uísque e de enrijecer meu corpo quando você tentava me conduzir numa dança. Lembro do seu cheiro de conforto e de me deitar ao seu lado e começar a tagarelar para não o deixar dormir, de passar minhas mãos nos seus braços e de deitar minha cabeça no seu peito, de abraçar você e pedir para sentir seu peso sobre mim. Lembro de enlouquecer com seu corpo incrivelmente branco e sua pele macia, de puxar seus ombros em minha direção afiando minhas unhas em você, de enrolar meus dedos nos seus cabelos e de pedir para aquilo nunca ter fim.
Costumava andar nas suas costas, conversar enquanto estávamos no banheiro, beijar sentindo a água do chuveiro chover em nós, usar seu xampu, o observar enquanto fazia a barba, escutar música e comer sanduíche com requeijão. Costumava me enciumar com facilidade, de ter tanto medo de perder aquela ilusão, beber demais e terminar chorando abraçada nos seus braços imóveis e temendo seu olhar de repressão. Gelando no branco da sua pele.
Lembro de olhar para você enquanto fumava seu cigarro e bebia seu chá apoiado na janela tão perto e distante de mim, de olhar você andando no corredor e de retocar meu batom vermelho me enrolando no lençol tentando chamar sua atenção para trazê-lo de volta para o quarto. Lembro de sentir sua respiração no meu pescoço enquanto dormíamos e de me aconchegar em você e de adorar ser surpreendida durante o sono com um abraço seu.
Costumava ficar feliz em freqüentar jogos de futebol, torcia pelos abraços seguidos de pulinhos vindos em sequência depois dos gols e adorava quando chovia e você me abraçava para tremermos juntos.
Lembro de temer as unhas do seu cachorro nas minhas meias e de você limpar meu vestido dos fiapos soltos. Lembro do meu olhar terno quando o vi tão preocupado em salvar o passarinho na varanda. Lembro de sair com você para comprar tênis, balas, guarda-chuva e auxiliar na compra de roupas.
Costumávamos beber água no gargalo, manchávamos os moveis com marcas de copo e desforrávamos a cama.
 Lembro de tantas conversas, mas também me lembro do silêncio que crescia entre nós. Lembro do desconforto, da falta de empolgação, dos atrasos, da falta de faíscas no toque. Lembro de sentir saudade do jeito que você já não me olhava, de sentir saudade da paixão que deu lugar ao comodismo. Os encontros foram tornando-se mais escassos. Derrubamos o copo com nossos beijos e não nos beijamos mais.

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